quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Trecho: E O Vento Levou...

Uma das histórias de amor mais famosas da literatura, obra-prima de Margaret Mitchell, retrata de forma vívida a Guerra Civil norte-americana. O belíssimo Sul entra em ruínas quando estoura a guerra. As ricas fazendas, o cavalheirismo, a graça e a tranqüilidade do sul aristocrata devastado pelo combate, enterra para sempre um estilo de vida. Desenvolve-se neste cenário assolado, uma paixão entre duas pessoas tão semelhantes e orgulhosas: Scarlett O'Hara uma frívola beldade sulista que ao ser forçada a enfrentar os horrores da guerra endurece e se torna mais obstinada. E Rhett Butler, um irresistível e charmoso aventureiro, um homem que ela jamais percebe que ama, até o fim. 

Em 1937 além do livro receber o Prêmio Pulitzer houve uma adaptação em 1939 para o cinema como os eternos atores Clark Gable (como Rhett Butler) e Vivien Leigh (como Scarlett O'Hara). Indicado a 13 Oscar ganhando oito.

Tanto o livro quanto o longa merecem ser vistos, duas obras inesquecíveis, imortalizadas. Que descreve o triste destino dos malfadados amantes que nunca conseguiram ser felizes. 


 " Com uma rapidez que a deixou atordoada, ele escorregou do sofá e se pôs de joelhos e, com uma das mãos delicadamente posta sobre o coração, recitou apressadamente:

- Perdoe-me por assustá-la com a impetuosidade de meus sentimentos, minha querida Scarlett... Não pode ter-lhe passado despercebido que faz algum tempo a amizade que tenho em meu coração por você amadureceu, transormando-se em um sentimento mais profundo, um sentimento mais belo, mais puro, mais sagrado. Ouso nomeá-lo? Ah! é o amor que me torna tão ousado! "


( Rhett Butler. Margaret Mitchell. E O Vento Levou - pg. 769/770)


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Citações Vampíricas (Parte II) ~

" Assim estendemos a mão para o caos furioso, apanhamos alguma coisa pequena e brilhante e nos agarramos a ela, dizendo para nós mesmos que ela tem significado, que o mundo é bom, que não somos a encarnação do mal e que no fim, iremos para casa."
(Lestat de Lioncourt)

" É você quem guarda rancores, acha que vivo no passado. Você não entende que eu mudo a cada era, da melhor mandeira possível."
(Armand)

" Nós, vampiros, não acertamos antigas desavenças. Nós a cultivamos."
(Lestat de Lioncourt)

" Por mais longa que seja nossa existência, temos nossas lembranças - pontos no tempo que o próprio tempo não consegue apagar. O sofrimento pode deturpar vislumbres do passado, mas mesmo diante do sofrimento, algumas lembranças se recusam a perder seja o que for da sua beleza ou do seu esplendor. Pelo contrário, elas permanecem sólidas como pedras preciosas."
(Marius)

" A ausência do amor é o sofrimento mais desprezível."
(Conde Drácula)

" Não existe más idéias. Só idéias incríveis sendo mal executadas." 
(Damon Salvatore)

" Não me entenda errado, Stefan. Eu não ligo de ser o cara mau. Eu vou tomar todas as decisões de vida ou morte, enquanto você está ocupado preocupando-se com os danos colaterais. Até mesmo vou deixar que ela me odeie. Mas no final do dia, eu vou ser aquele que vai mantê-la viva. "
(Damon Salvatore para Stefan Salvatore)

" Aquilo que se faz por amor, está sempre além do bem e do mal."
(Damon Salvatore)

" Você sente minha solidão, minha amargura por ser excluído da vida. Minha amargura por ser algo maligno, porque não mereço ser amado e, no entanto, preciso de amor com toda minha ânsia. Mas essas coisas não me detêm. Sou forte demais para que elas possam me deter. Como você mesma disse um dia: sou muito bom em ser  o que sou. Essas coisas apenas me fazem sofrer de vez em quando, só isso."
(Lestat de Lioncourt)

Espero que tenham gostado das poucas frases que escolhi, são algumas das minhas favoritas. Enfim, quem sabe algum dia minha prece chegue aos ouvidos imortais de algum destes Príncipes da Noite. Uma última que deixo para encerrar, será do meu eterno Príncipe Moleque Lestat: " Venham. Venham vampiros, me achar onde estiverem."

Citações Vampíricas (Parte I) ~

Como o fim do Mundo passou, e nós meros mortais ainda existimos, não resisti em postar várias frases dos mais famosos vampiros da literatura. Uma humilde homenagem desta mortal apaixonada por seres imortais... 

" Tente ver o mal que eu sou. Ando pelo mundo em trajes de mortal, o pior dos demônios. O monstro que se parece exatamente com todo mundo. "
(Lestat de Lioncourt)

" Atravessei oceanos de tempo para encontrar-te. "
(Conde Drácula)

" O mal é sempre possível. E a bondade é eternamente difícil. "
(Louis de Pointe du Lac)

" Nenhuma morte pode ser enorme como a vida..."
(Lestat de Lioncourt)

" Temos sangue nas mãos, todos nós, exatamente como em nossas veias. "
(A Rainha dos Condenados: Akasha)

" Com uma exceção, não é nenhuma luz do dia, mas luz estrelada e luar. Durante as longas horas de meia-noite, eu penduro debaixo de sua janela e imagino o com o que você está sonhando. Eu costumava evoluir na escuridão; agora, eu quase me ressinto com isto. "
(Alexander)

" Estava morto até que me encontrou, embora respirasse. Estava cego, embora pudesse ver. E, então chegou você... E despertei. " 
(Livro: Amante Desperto)

" É dito que o sangue é mais grosso que a água. É o que nos define, nos une, nos amaldiçoa.
Para alguns, sangue significa uma vida cheia de riquezas e privilégios. Para outros, uma vida de servidão. "
(Barnabas Collins - Sombras da Noite)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Os Sete Corvos - Irmãos Grimm

Continuando a postagem anterior, escrevo um pequeno conto dos Grimm.
Era uma vez um homem que tinha sete filhos, todos meninos, e vivia suspirando por uma menina.
Afinal, um dia, a mulher anunciou-lhe que estava mais uma vez esperando criança.
No tempo certo, quando ela deu à luz, veio uma menina. Foi imensa a alegria deles. Mas, ao mesmo tempo, ficaram muito preocupados, pois a recém-nascida era pequena e fraquinha, e precisava ser batizada com urgência. Então, o pai mandou um dos filhos irem bem depressa até a fonte e trazer água para o batismo.

O menino foi correndo e, atrás dele, seus seis irmãos. Chegando lá, cada um queria encher o cântaro primeiro; na disputa, o cântaro caiu na água e desapareceu. Os meninos ficaram sem saber o que fazer. Em casa, como eles estavam demorando muito, o pai disse, impaciente:

- Na certa, ficaram brincando e se esqueceram da vida!
E, cada vez mais angustiado, exclamou com raiva:
- Queria que todos eles se transformassem em corvos!

Nem bem falou isso, ouviu um ruflar de asas por cima de sua cabeça e, quando olhou, viu sete corvos pretos como carvão passando a voar por cima da casa. Os pais fizeram de tudo para anular a maldição, mas nada conseguiram; ficaram tristíssimos com a perda dos sete filhos. Mas, de alguma forma, se consolaram com a filhinha, que logo ficou mais forte e foi crescendo, cada dia, mais bonita. Passaram-se anos. A menina nunca soube que tinha irmãos, pois os pais jamais falaram deles. Um dia, porém, escutou acidentalmente algumas pessoas falando dela:

- A menina é muito bonita, mas foi por culpa dela que os irmãos se desgraçaram…

Com grande aflição, ela procurou os pais e perguntou- lhes se tinha irmãos, e onde eles estavam. Os pais não puderam mais guardar segredo. Disseram que havia sido uma predestinação do céu, mas que o batismo dela fora a inocente causa. A partir desse momento, não se passou um dia sem que a menina se culpasse pela perda dos irmãos, pensando no que fazer para salvá-los.
Não tinha mais paz nem sossego. Um dia, ela fugiu de casa, decidida a encontrar os irmãos onde quer que eles estivessem, nesse vasto mundo, custasse o que custasse. Levou consigo apenas um anel de seus pais como lembrança, um pão grande para quando tivesse fome, um cantil de água para matar a sede e um banquinho para quando quisesse descansar.
Foi andando, andando, se afastando cada vez mais, e assim chegou ao fim do mundo. Então, foi falar com o sol. Mas ele era assustador, quente demais e comia crianças. A menina fugiu e foi falar com a lua. Ela era horrorosa, mais fria que o gelo, e também comia crianças. Quando viu a menina, disse com um sorriso mau:

- Hum, hum… que cheirinho bom de carne humana!

A menina se afastou correndo e foi falar com as estrelas. Encontrou–as sentadas, cada uma na sua cadeirinha. Todas elas foram bondosas e amáveis com ela. A Estrela D’alva ficou em pé e lhe deu um ossinho de frango, dizendo:

- Sem este ossinho, você não poderá abrir a Montanha de Cristal, e é na Montanha de Cristal que estão seus irmãos.

A menina pegou o ossinho, embrulhou-o num pedaço de pano, e de novo se pôs a andar. Andou, andou e afinal chegou à Montanha de Cristal. O portão estava fechado; quando desembrulhou o paninho para pegar o osso, ele estava vazio! Ela havia perdido o presente da estrela… E agora, o que fazer? Queria salvar os irmãos, mas não tinha mais a chave da Montanha de Cristal. Sem pensar muito, meteu o dedo indicador dentro do buraco da fechadura e girou-o, mas o portão continuou fechado. Então, pegou uma faca em sua trouxinha, cortou fora um pedaço do dedo mindinho, meteu o pedaço do dedo na fechadura: felizmente, o portão se abriu. Assim que ela entrou, um anãozinho veio a seu encontro:

- O que esta procurando, minha menina?
- Procuro meus irmãos, os sete corvos.
- Os senhores corvos não estão em casa e vão se demorar bastante. Mas, se quiser esperar, entre e fique à vontade.

Assim dizendo, o anãozinho foi para dentro e voltou trazendo a comida dos corvos em sete pratinhos, e a bebida em sete copinhos. A menina comeu um bocadinho de cada prato e bebeu um golinho de cada copo, mas deixou cair o anel que trouxera dentro do último copinho. Nesse momento, ouviu-se um zunido e um bater de asas no ar.

- São os senhores corvos que vêm vindos – explicou o anãozinho. Eles entraram, quiseram logo comer e beber e se dirigiram para seus pratos e copos. Então um disse para o outro:
- Alguém comeu no meu prato! Alguém bebeu no meu copo! E foi boca humana!
E quando o sétimo corvo acabou de beber a última gota de seu copo, o anel rolou até o seu bico. Ele reconheceu o anel de seus pais e exclamou:
- Queira Deus que nossa irmãzinha esteja aqui! Então, estaremos salvos!

Ao ouvir esse pedido, a menina, que estava atrás da porta, saiu e foi ao encontro deles. Imediatamente, os corvos recuperaram sua forma humana. Abraçaram-se e se beijaram na maior alegria e, muito felizes, voltaram todos para casa.

Os Irmãos Grimm: Vida & Obra

Hoje dia 20/12/2012 véspera do fim do Mundo vamos comemorar o 200º Aniversário dos Irmãos Grimm. Por isso, resolvi descrever um pouco da vida e obra destes dois famosos escritores clássicos eternizados em Contos de Fadas. Se não fosse por eles e suas histórias que ouvi e aprendi desde criança, talvez não teria esta imaginação fértil que possuo. 

Os irmãos Grimm, que nos legaram os contos hoje conhecidos como “Os Contos dos Irmãos Grimm”, eram sisudos eruditos que dedicaram boa parte de suas vidas à pesquisa.

Jacob nasceu em 1785 e Wilhelm, um ano depois. O pai deles, um advogado, faleceu quando eram ainda crianças, mas a mãe decidiu que os dois seguiriam os passos do pai – o que fizeram com o auxílio financeiro de uma tia. Nasceram em Hanau, Hesse, e freqüentaram a universidade em Kassel, onde ambos formaram-se com sucesso em Direito. Não possuíam recursos para se estabelecerem como advogados e precisavam sustentar a mãe, então acei­ta­ram o que lhes foi oferecido. Jacob tornou-se assistente de um faoso especialista em lei romana, o Professor Savigny, quem lhe ensinou a pesquisa e plantou em sua mente tal amor por esta. Jacob tornou-se um dos grandes homens de seu tempo – não em matérias de lei, mas em filo­logia, o estudo da linguagem. Ambos irmãos eram fascinados por este estudo e seus interesses eram tão abrangentes e profundos que o Professor William P. Ker descreveu a filologia como sendo, para eles, o estudo não apenas das palavras, mas da História, da Alemanha, da Idade Média, das Letras Clássicas e da Raça Humana.

Logo Jacob e Wilhelm conseguiram ocupações que lhes permitiram dedicarem-se a seus interesses pessoais, dando início a um tratado sobre a língua germânica. Desenvolveram uma teoria que ficou universalmente conhecida como a Lei dos Grimm. Em todos os seus estudos foram pioneiros, começando do zero, sem nada, em absoluto, em que apoi­a­­­rem-se: nem estudos anteriores de outros, nem dicio­nários ou guias de raízes e derivações das palavras. Sob certo aspecto, Jacob foi melhor estudio­so, Wilhelm, melhor escritor, mas trabalhavam juntos em tal colaboração que é quase impossível distinguir suas contribuições. Por dez anos dedi­caram-se à Gramática Germânica; depois enfro­nharam-se na mitologia de sua gente com o mes­mo afinco, determinados em estabelecer algo comparável aos mitos nórdicos e eslavos, já bastante divulgados. Foi esta tarefa que concedeu ao mundo os contos de fadas, coletados como parte da evidência necessária desse trabalho mais amplo.

Estes contos passavam oralmente das mães aos filhos, ninguém sabia há quantas gerações, sem jamais haverem tido as formas de suas histórias fixadas pela escrita. Assim, uma família de, digamos, lenhadores ou carvoeiros que vivesse há séculos nas densas florestas poderia relatá-las de modo bem diferente de uma outra família que houvesse sempre vivido em re­giões de céu aberto ou nas fazendas dos vales.

Jacob e Wilhelm ouviram com freqüência esses contos na infância, mas agora os examinavam com outros olhos, olhos críticos, e com a esperança de que iluminassem a história, as crenças e os costumes da longa sucessão de camponeses alemães que haviam concedido a essas histórias suas formas finais. Os irmãos va­lo­rizavam as histórias por seu material folclórico, sendo portanto essencial que fossem obtidas tantas versões de cada história quantas possíveis, e que cada uma fosse registrada com absoluta fidelidade ao relato feito pelos camponeses em suas choupanas. “Não acrescentamos nada de nosso”, declararam quando da publicação dos contos, “não embelezamos nenhum de seus eventos ou traços característicos. Cada história é recontada substancialmente co­mo a recebemos, embora precisássemos de algu­ma habilidade para distinguirmos suas versões”. Os Grimm encarregaram algumas pessoas de confiança de irem às cozinhas buscar com as mulheres mais idosas as histórias. Estes assistentes ouviam a mesma história vezes sem conta até as terem em todas as suas riquezas de dialetos e detalhes. Então os irmãos trabalhavam nos relatos com a precisão e o método característicos de seu povo, tomando uma frase aqui, uma palavra ali, como testemunhos de lendas e mitos esquecidos. Para eles, os gnomos, as fadas, os gi­gantes, os duendes das minas e os duendes ami­gos dos homens eram parte de um passado esquecido. A bacia de leite posta junto às brasas da lareira à noite pelas donas de casa para agradar aos duendes amigos indicava, aos olhos desses filólogos, um elo direto com os sacrifícios oferecidos antigamente aos deuses nos altares. Os irmãos aprenderam que um gigante podia, aparentemente, ser tão velho quanto as montanhas, embora um anão já fosse um adulto aos três anos de idade, e um velhote, aos sete. Descobriram que algumas crianças saudáveis eram substituídas em seus berços pelas crias das fadas para que estas últimas melhorassem os seus físicos franzinos, e que os buracos dos nós das madeiras eram portas pelas quais os duen­des e as fadas adentravam às habitações humanas jun­to com os raios de sol.

Os Grimm demonstravam através de suas personalidades a meticulosidade e a solenidade típicas dos germânicos: pouco senso de humor e uma certa tendência para o romântico – que levou Jacob a admitir que, mesmo em idade bem avançada, a mera palavra “misterioso” continuava a entusiasmá-lo. Na juventude, ao menos, ele também demonstrara verdadeiro prazer pelas coisas simples do campo. Os irmãos dedicaram sua Gramática a Savigny, e Jacob escreveu que o verdadeiro poeta “é como um homem que se sente imensamente feliz onde quer que esteja, se lhe for permitido apreciar as folhas e a relva, observar o sol se levantar e se pôr. O falso poeta viaja ao estrangeiro e anseia por se exaltar com as montanhas da Suíça, os céus e os mares da Itália. Ele vai a estes lugares, mas permanece insatisfeito. Não é tão feliz quanto o homem que fica em casa e vê a macieira florescer na primavera e escuta os passarinhos cantarem em seus galhos”.

O primeiro volume de Kindermärchen foi publicado em 1812, o segundo em 1815, o ano da batalha de Waterloo. É estranho imaginar esses dois irmãos obstinadamente prosseguindo com suas pesquisas sobre o folclore germâ­nico durante os conturbados anos das guerras napoleônicas, que tão diretamente afetaram o seu solo nativo – Napoleão havia incorporado Hesse e Kassel ao novo Reino de Westfália. Tal­vez seja ainda mais estranho que a tradução dos contos tenha chegado à Inglaterra tão rápido – apenas oito anos depois.

Na Inglaterra, os contos de fadas haviam tido a este tempo suas existências praticamente eliminadas pela sisudez inglesa. Eram classificados de injuriosas tolices, capazes de perturbar as crianças; e uma época de contos morali­zantes e fatos de interesse em formatos digeríveis tivera início. É provável que a própria seriedade com a qual os irmãos Grimm ha­viam coletado os contos tenha ajudado a torná-los mais aceitáveis na Inglaterra, abrindo assim mais uma vez os portões das terras das fadas às crianças inglesas.

Sir Walter Scott procedera da mesma forma ao esquadrinhar as fronteiras em busca das baladas coletadas e preservadas em seu Border Mins­trelsy. Ele compreendeu o que os irmãos Grimm procuravam, e recomendou a edição in­­gle­sa dos contos a todos os lares.

Logo que completaram a Teoria da Mitologia Germânica – o que levou treze anos –, os irmãos embarcaram na gigantesca tarefa de produzirem um Dicionário da Língua Alemã, mas ambos faleceram antes de terminá-lo. Próximo ao fim de sua vida, Jacob por vezes levantava as mãos, os dedos estendidos, dizendo tristemente: “Tenho um livro pronto a sair da ponta de cada um dos meus dez dedos – mas não sou livre”.

Quando tinha uns trinta anos, Jacob exercera um posto na Universidade de Göttingen e fora um dos sete professores que assinaram um protesto contra a interferência do rei de Hanover (aquela personalidade duvidosa, Ernesto, o Duque de Cumberland) em suas liberdades acadêmicas. Foi despedido da Universidade e banido do reino. Parecia um desastre, pois como poderia trabalhar sem o acesso a uma biblioteca erudita? Retornou a Kassel e labutou como pôde mas, felizmente, após três anos, o Rei da Prússia lhe ofereceu um cargo na Universidade de Berlim, onde daria continuidade ao seu trabalho.

Um outro filólogo famoso, Vigfusson, legou-nos uma vívida descrição de Jacob Grimm aos setenta e quatro anos, quando vivia em um apartamento na Linkstrasse, em Berlim. Não era muito alto, mas tinha um porte ereto, sua cabeça grande inclinava-se levemente, como se em pensamento. Tinha o rosto barbeado e carregava um semblante sério que pouco se alterava. Seus cabelos eram volumosos, lisos e prateados. Ler e escrever ha­viam cansado seus olhos, mas não usava óculos; ainda assim era capaz de encontrar o exato livro procurado e até mesmo de abri-lo na exata linha desejada. Era ordeiro em suas vestimentas e não fumava. A sala onde trabalhava, limpa e arejada; as paredes, cobertas de livros e, como única mobília, uma mesa maciça ao centro, e um banco ou sofá sem recosto ou apoio para a cabeça. Enormes volumes in-fólio se espalhavam por toda parte, alguns recostados nos pés da mesa. Jacob não demonstrava sinal de orgulho ou de vaidade, não desejava falar de si mesmo, apenas do trabalho de outros homens. Conta-se que Hans Christian Andersen (uma personalidade bastante diversa, sempre guia­do pelo coração e pela imaginação, por demais sensível, por demais terno e desejoso de felicidade) certa vez partiu alegremente de Copenhague para visitar estes (na sua concepção) seus irmãos artistas. Encontrou o apartamento e indagou por eles. Perguntaram-lhe qual irmão Grimm gostaria de ver. – “O... o que escreve os contos de fadas” – gaguejou, começando a desejar nunca ter vindo. Foi levado a Wilhelm. Inclinaram-se, cumprimentando-se. O “comprido” Andersen olhou de cima de sua desajeitada altura para o grave e circunspecto Grimm. Wilhelm repetiu o nome de Andersen sacudindo a cabeça negativamente. Nunca ouvira falar em Hans Christian Andersen. Andersen tentou explicar. Escrevia contos de fadas. Suas obras ha­viam sido incluídas junto com a dos irmãos em um volume traduzido... Wilhelm ainda balançava a cabeça. Não, de modo algum; nada sabia de Andersen e de seus contos. Talvez Jacob pudesse ajudar, não? Mas Andersen, magoado, com lágrimas nos olhos, já se retirava.

L&PM: Vida & Obra - Os Irmãos Grimm

domingo, 16 de dezembro de 2012

Silêncio ~

“ Se você não consegue entender o meu silêncio, de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos. Se você não se atrasar demais, posso te esperar, por toda a minha vida. "
(Oscar Wilde)

" Sou o mestre na arte de falar em silêncio. Toda minha vida falei calando-me, e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra. "
(Fíodor Dostoiévski)

" Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso. "
( Clarice Lispector)

" A música expressa o que não pode ser dito em palavras, mas não pode permanecer em silêncio. "
(Victor Hugo)

" Para todos os males, há dois remédios: o tempo e o silêncio. "
(Alexandre Dumas)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Teus Olhos

Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima, 
silêncio que fala,
Tempestades sem vento, mar sem ondas, 
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cestas de frutos de fogo,
mentira que aimenta,
espelhos deste mundo, portas do além, 
pulsação tranquila do mar do meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária. 

(Octavio Paz)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Medousa - Theatres des Vampires

Minha maldição...
Sou a Deusa Bruxa, 
Em minha pele aterrorizante, 
Eu sou uma das três, 
 Com uma fé mortal,
Eu sou Medusa... 

Eu sou a Górgona, 
Esculpida no Templo de Dídimos,

Sou a Senhora,
Do portão Oeste da Morte, 
Eu sou a Guardiã,
Do submundo dos mortos
Sou a amante,
Do frio crepúsculo e de todas as bestas...

Pela veia direita, 
Eu dou a vida novamente
E pela veia esquerda...
Eu lhe dou dor e morte. 

Chamem-me de filha, irmã, 
Rainha ou até mesmo Deus. 
Com meu olhar silencioso,
Transformo em pedra 
A carne humana. 

Emoldurada por luz e serpentes,
Não é o veneno...
Mas sim o olhar penetrante,
Parando o sangue em suas veias...
Em meu reinado de mármore.

Erguendo do nevoeiro sombrio,
Quando a luz do dia se esvaí...
Clame meu nome...
E eu virei... 
Eu sou, Medusa


Uma das minhas favoritas músicas da banda, a Medusa é uma das criaturas mais fascinantes das histórias gregas. Irmã de Esteno e Euríale as três eram Górgonas, ou seja, monstros ferozes femininos. 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Citações Diversas (Parte I)

" É supreendente os segredos que alguns guardam. Uma pessoa sem segredos é como um espantalho vazio, sem palha. As coisas que ninguém sabe nos fazem quem somos."
(Série: Bag of Bones. Stephen King.)

" Aprendi que o tempo não cura uma ferida, mas de alguma forma, de um jeito misericordioso, diminui o tamanho dela. "
(88 Mintuos)

" A única pessoa que eu não posso estar junto, é aquela que eu mais queria entregar meu coração. "
(A Casa do Lago)

" Porque no final, quando perdemos alguém, cada vela, cada oração, não compensa o fato de que a única coisa que sobrou é um buraco na sua vida onde aquela pessoa que você gostava costumava estar. "
(Damon Salvatore. The Vampire Diaries)

" Quando as pessoas vêem bondade, esperam por ela. E não quero ter que viver com as expectativas de ninguém. " 
( Damon Salvatore. The Vampire Diaries)

" Ela me disse que amar era sofrer. Então a olhei, e disse que sofreria por ela. "
(Peter Pan)

" Nem tudo que é verdade, é real... "
( A Lenda do Cavaleiro Sem-Cabeça)

" Ou se morre como heroí, ou vive-se bastante para tornar-se o vilão. "
( Coringa. Batman)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Capítulo XVI - E a Escuridão Não o Alcançou

" Olhe bem minha história e diga-me que ela não lhe oferece nada. Não acreditarei se me disser isso. (...)
Mas digo que da minha dor, da minha loucura, da minha paixão desaponta uma visão - uma visão que trago comigo eternamente e que lhe ofereço. É uma visão de todos os seres humanos, explodindo de fogo e mistério, uma visão que não posso negar, que não posso apagar, nem evitar, nem jamais subestimar ou dela escapar. 
Há quem escreva sobre dúvida e escuridão. Outros há que escrevam sobre a falta de sentido das coisas e a mansidão, a quietude. 

Eu escrevo sobre a sede de sangue que nunca é saciada. Escrevo sobre o conhecimento e seu preço. 
Preste atenção, eu lhe digo, a luz está dentro de você. Eu a vejo. Vejo-a em cada um de vocês, e sempre a verei. Vejo-a quando tenho fome, quando luto, quando mato. Vejo-a tremeluzir e morrer em meus braços quando bebo. É capaz de imaginar como seria se eu o matasse?
Reze para que nunca haja uma carnificina para que você possa ver essa luz que o cercam. Deus não permita que tenha que pagar esse preço. Deixe que eu pague-o por você... "

(Vittorio, O Vampiro. Anne Rice. Pgs. 203 -204)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Balada do Cárcere de Reading

(...)

Eu soube, então, a idéia lacerante
que o atormenta, e o faz correr
e o faz olhar, tristonho, o céu radiante,
radiante, e alheio ao seu sofrer:
ele matou aquela que adorava,
- por causa disso vai morrer.

No entanto (ouvi!) cada um mata o que adora:
o seu amor, o seu ideal.
Alguns com uma palavra de lisonja,
outros com um frio olhar brutal.
O covarde assassina dando um beijo, 
O bravo mata com um punhal.

Uns matam o Amor velhos; outros, jovens; 
(quando o amor finda, ou quando o amor começa);
matam-no alguns com a mão do Ouro,
e alguns com a mão da Carne, - a mão possessa!
E os mais bondosos, esses apunhalam,
- que a morte, assim, vem mais depressa. 

Uns vendem, outros compram; uns amam pouco, 
noutros, o Amor dura de mais;
uns enterram-no aos ais, vertendo pranto, 
outros sem prantos e sem ais: 
todo homem mata o Amor; porém nem sempre,
nem sempre as sortes são iguais. 

(...)

(Oscar Wilde)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Citações: Black Swan

" A perfeição não é apenas o controle, também é se deixar levar... Surpreenda-se para surpreender a platéia... Transcendência... Poucas pessoas têm isso nelas. "

" Você é obcecada, fazendo cada movimento perfeitamente correto... Mas nunca se entrega. Nunca. Toda essa disciplina para que? " 
" Tive um sonho louco ontem, com uma garota que se transformou em um cisne. Ela precisava quebrar o encanto, mas quando seu Príncipe se apaixonou por outra garota... Ela se matou."

sábado, 27 de outubro de 2012

Citação: Sucker Punch

“ Todos nós temos um anjo. Um guardião que nos protege. Não sabemos que forma pode tomar, pode ser qualquer uma. Um dia, um homem velho... No outro, uma garotinha... Não deixe as aparências te enganarem. 

Eles podem ser tão ferozes como qualquer dragão. Mas mesmo assim, podem não estar aqui para lutar nossas batalhas, mas, para sussurrarem em nossos corações. Lembrando-nos que cada um de nós é que tem o poder sobre o mundo que criamos. ”

      (Sweet Pea. Filme: Sucker Punch)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Vampiro

Tu que, como uma punhalada
Invadiste meu coração triste,
Tu que, forte como manada
De demônios, louca surgiste,

Para no espírito humilhado
Encontrar o leito ao ascendente,
- Infame a que estou atado
Tal como forçado à corrente,

Como a seu jogo o jogador,
Como à garrafa o beberrão,
Como aos vermes a podridão
- Malditas sejas, como for!

Implorei ao punhal veloz
Dar-me a liberdade um dia, 
Disse após ao veneno atroz
Que me amparasse a covardia.

Mas não! O veneno e o punhal
Disse-me de ar zombeiro:
" Ninguém te livrará afinal
De teu maldito cativeiro

Ah! Imbecil de teu retiro
Se te livrássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!

(Charles Baudelaire)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Soneto 65

Se a morte predomina na bravura
Do bronze, pedra, terra e imenso mar, 
Pode sobreviver a formosura,
Tendo da flor a força a devastar
Como pode o aroma do verão
Deter o forte assédio destes dias,
Se portas de aço e duras rochas não
Podem vencer do Tempo a tirania?
Onde ocultar - medição atroz - 
O ouro que o Tempo quer em sua arca?
Que mão pode deter seu pé veloz,
Ou que beleza o Tempo não demarca?
Nenhuma! A menos que este meu amor
Em negra tinta guarda seu fulgor.


(William Shakespeare)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Annabel Lee

Foi há muitos, muitos anos, existia
num reino à beira-mar
uma virgem, que bem se poderia
Annabel Lee se chamar. 


Amava-me, e seu sonho consistia

em ter-me para a amar.
Eu era criança, ela era uma criança
num reino à beira-mar;


mas nosso amor chegava ó Annabel Lee

o amor a ultrapassar,
o amor que os próprios serafins celestes
vieram a invejar. 


Foi por isso que há muitos, muitos anos,

no reino à beira-mar,
de uma nuvem soprou um vento e veio 
Annabel Lee gelar.


E seus nobres parentes se apressaram

em de mim afastar,
para encerrá-la numa sepultura,
no reino à beira-mar.


Os anjos, que não eram tão felizes,

nos vieram a invejar.
Sim! Foi por isso (como todos sabem
num reino à beira-mar)


que um vento veio, à noite, de uma nuvem

Annabel Lee matar.
Mas o nosso amor, o amor dos mais idosos,
de mais firme pesar, podia ultrapassar.


E nem os anjos que vieram nas alturas,

nem demônios do mar,
jamais minha alma da de Annabel Lee
poderão separar.


Pois, quando surge a lua, há um sonho que flutua,

de Annabel Lee, no luar; 
e quando, se ergue a estrela, o seu fulgor revela
de Annabel Lee o olhar;


assim, a noite inteira, eu passo junto a ela,

a minha vida, aquela que amo, a companheira,
na tumba à beira-mar,
junto do clamor do mar. 


(Edgar Allan Poe) 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Citação: Segundo Ato - Cena Dois

" Silêncio. Que luz é aquela na janela? É o sol nascente, é Julieta que surge! Desperte sol, e mate a lua ciumenta, que está pálida e doente de tristeza, pois vê que você é mais perfeita que ela! Deixe de servi-la, já que ela é tão invejosa! Seu manto é esverdeado e triste como a túnica dos dementes: jogue-o fora! É a minha dama, é o meu amor. Se ela ao menos soubesse!... Está falando ou não? Seus olhos falam... Respondo ou não? Sou muito ousado... Não é a mim que ela fala. Duas estrelas devem ter emprestado o brilho a seu olhar. E se fosse o contrário? Seus olhos no céu, e o astros seriam apagados, como o dia faz com a luz das velas. E tanta claridade se espalharia no céu, que os pássaros cantariam, pensando que era dia com luar. "
        (William Shakespeare: Romeu & Julieta. Ato II - Cena II)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Amizade

Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo. 


Pode ser que um dia o tempo passe...

Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.


Pode ser que um dia nos afastemos...

Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará. 


Pode ser que um dia não mais existamos,

Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.


Pode ser que um dia tudo acabe...

Mas, com a amizade, construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.


Há duas formas de viver sua vida: 

Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre. 


(Albert Einstein)


Capítulo XXI - A Raposa

" - Por favor... cativa-me! disse a raposa.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer. 
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho. 
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto... 

No dia seguinte, o principezinho voltou. 
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!
Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos. "

(O Pequeno Príncipe: Antoine de Saint-Exupéry - pg. 70-71)

sábado, 6 de outubro de 2012

A Curiosidade

" - A Curiosidade é o que diferencia o homem superior do medíocre - dizia Odin a Loki, tentando instruí-lo.
Na verdade, há apenas duas classes de homens: os despertos e os adormecidos; os primeiros são aqueles que já acordaram do sono bruto da indiferença, no qual os outros ainda estão miseravelmente imersos. Um sono imbecilizante, que os faz crer que a vida se resume à meia dúzia de funções orgânicas, exceto a mais nobre: a de usar seus próprios cérebros para criar algo de belo, que os torne felizes como um deus. E isto - arrematou Odin - somente alguém dotado de curiosidade pode fazer, ou seja, alguém desperto. "

(In: As Melhores Histórias da Mitologia Nórdica - A.S. Franchini e Carmen Seganfredo)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Music of the Night

Mais uma recomendação de música. Faz parte do filme de Andrew Lloyd Webber, O Fantásma da Ópera adaptação do livro de Gaston Leroux com o mesmo nome.  Este trecho específico é cantada pelo Fantásma, para a protagonista Christine Daae. Uma cena muito bonita ao meu ver... 
A tradução da letra original foi feita por mim. 

A noite aguça, acentua todas as sensações...
A escuridão agita, despertando a imaginação
Silenciosamente os sentidos abandonam suas defesas.

Vagarosamente, gentilmente, a noite estende seu esplendor. 
Agarre-a, sinta-a, trêmula e suave.
Desvie sua face, da luz ostensiva do dia
Esconda seus pensamentos, da luz fria e insensível...
E ouça a música da noite.

Feche seus olhos, entregue-se aos seus sonhos mais obscuros...
Expurgue os pensamentos da vida que conhecia...
Feche seus olhos, deixe sua alma elevar
E viverá como nunca viveu antes!

Suavemente, primorosamente, a música irá acariciá-la...
Ouça-a, sinta-a, secretamente possuindo-a...
Abra sua mente! Liberte suas fantasias... 
Nesta escuridão que não tem como escapar.
A escuridão da música da noite... 

Deixe sua mente iniciar uma viagem através de um mundo novo e estranho,
Esqueça a vida que conhecia até agora...
Deixe sua alma levar-te para onde desejar estar!
Só assim, poderá pertencer a mim.

Flutuando, caindo, doce intoxicação...
Toque-me, confie em mim, saboreie cada sensação
Deixe o sonho iniciar, deixe seu lado sombrio entregar-se...
Para o poder da música que componho.
Pelo poder da música da noite.

Somente você... 
Pode fazer minha canção alcançar vôo
Ajude-me a compor a música da noite.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Loucos & Santos

Escolho o meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e que aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela rosto exposto.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e a outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que 'normalidade' é uma ilusão imbecil e estéril.
(Oscar Wilde)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Brumas & Chuvas

Ó inverno, ó fim de outono, ó primavera em lama,
Dormidas estações! A minha alma vos ama
Por cobrirdes-me assim cérebro e coração
De sudário brumal, de tumba e de ilusão

Nesta grande planura em que o Astro se derrama,
Noite em que o cata-vento é uma voz rouca e brama,
A minha alma, melhor que na morna estação,
Suas asas de corvo abrirá na amplidão. 

Por certo ao coração, todo coisas esquálidas,
Sobre quem desce há muito o frio das nevadas,
Rainhas da atmosfera, ó estações descoradas,

Nada é mais doce que vossas trevas tão pálidas,
Se a dois e dois por noite, após um triste ocaso, 
Dormimos nossa dor por um leito de acaso. 

(Charles Baudalaire)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Soneto 96

De almas sinceras a união sincera. 
Nada há que impeça. Amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor. 

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora,
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se firma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou. 

(William Shakespeare)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mutability

" Descansamos; um sonho tem o poder de envenenar o sono.
 Levantamo-nos; um pensamento vagabundo polui o dia
Sentimos, concebemos ou raciocinamos; rimos ou choramos,
Abraçamos a amorosa dor ou repelimos nossas preocupações,
É o mesmo: pois, seja alegria ou tristeza,
O caminho de saída continua livre.
O ontem do homem talvez nunca seja como o amanhã.
Nada persiste, salvo a mutabilidade. "

(Percy Shelley)

domingo, 16 de setembro de 2012

Citação Lestat

Fujam de mim, ó mortais que são puros de coração. Fujam dos meus pensamentos, ó criaturas cheias de grandes sonhos. Afastam-se de mim, todos os hinos de glória. Sou o imã dos condenados. Pelo menos por um tempo. E então meu coração grita, meu coração não quer se calar, meu coração não desiste, meu coração não quer ceder...
... o sangue que ensina a vida não ensina mentiras e o amor volta a ser minha repreensão, meu tormento, minha canção. "

( Lestat de Lioncourt. Cântico de Sangue. P 285 )

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

À Você

Beijar o nácar, que te ascende os lábios,
Seria para mim prazer divino;

mas eu desprezo os risos da fortuna,

que podem profanar o meu destino.


Feliz de mim se repousasse um pouco,

sobre o teu níveo seio que palpita:

mas fere a maldição os meus desejos,

a paz voara e te deixara aflita.


Em silêncio nasceu, cresce em silêncio,

este amor infinito, único, eterno.

Irei agora, abrindo-te minha alma,

Exilar-te do céu, abrir-te o inferno?


Não, oh meu anjo, além escuto o eco

da maldição da nossa sociedade;

ouvi-lo, sem corar, não poderias,

expire pois a nossa felicidade.


Que importa o fogo que em meu peito lavra,

que importa a febre que me roí a vida,

se a tua correrá serena e pura,

de prazeres somente entretecida?


Roubar teu coração à paz dos anjos,

e nele despargir os meus amores,

oh! Fora um crime, um sacrilégio horrível;

para puni-lo não houveram dores.


E, pois, para livrar-te ao precipício,

Adeus, meu anjo, fugitivo corro:

rocem embora os teus, os lábios de outrem,

será breve o penar, porque já morro.


Sim, agonizarei talvez bem pouco,

Porque meus dias estão pedindo graça,

oh! Para possuir-te, afrontaria

infâmias, porém não tua desgraça.


Ao menos ficarás de um crime isenta,

O porvir para ti será de flores;

Que importa que minha alma se torture,

Se tu não sofrerás por meus amores?


(Lord Byron)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Sentimentos

" Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes... Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:   - E daí? Eu adoro voar! 

   Não me dêem formulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre. "

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Citação Abraham Van Helsing

Claro que eu não podia ficar em citar um trecho de um dos meus favoritos livros, Drácula de Bram Stoker.

" Todos os homens são loucos, de alguma forma ou de outra, e na medida em que você lida discretamente com seus loucos, lida também com os loucos de Deus, o resto do mundo. Você não conta aos seus loucos o que você faz nem por quê você faz. Você não conta a eles o que pensa. Então, você deve manter o conhecimento em seu lugar, onde ele possa descansar, onde ele possa reunir sua espécie e reproduzir... "