quarta-feira, 3 de junho de 2015

Canção

O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação

o peso
o peso que carregamos
é o amor.

Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -

pois o fardo da vida
é o amor,

mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.

Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
- não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contigo
quando negado:

o peso é demasiado
- deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.

Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho -

sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.

(Allen Ginsberg)

segunda-feira, 30 de março de 2015

Löwendenkmal





O Monumento do Leão (em alemão: Löwendenkmal), ou Leão de Lucerna, é uma escultura em Lucerna, na Suíça. Concebida por Bertel Thorvaldsen, homenageia os Guardas Suíços que foram massacrados em 1792 durante a Revolução Francesa, quando revolucionários invadiram o Palácio das Tulherias em Paris, França. O escritor norte-americano Mark Twain (1835–1910) elogiou a escultura de um leão mortalmente ferido como "o mais lúgubre e tocante peça em pedra no mundo."

A iniciativa de criar o monumento partiu de Karl Pfyffer von Altishofen, um oficial da Guarda Suíça que estava de licença em Lucerna quando a luta ocorreu, que começou a coletar dinheiro em 1818. O monumento foi concebido pelo escultor dinamarquês Bertel Thorvaldsen, e foi finalmente lavrado em 1820-21 pelo escultor Lukas Ahorn numa antiga pedreira de arenito perto de Lucerna.

O monumento é dedicado Helvetiorum Fidei ac Virtuti ("à lealdade e bravura dos suíços"). O leão moribundo é representado empalado por uma lança, cobrindo um escudo com a flor-de-lis da monarquia francesa; ao seu lado encontra-se um outro escudo com o brasão de armas da Suíça. A inscrição por debaixo da escultura lista os nomes dos oficiais, e o número aproximado dos soldados que morreram (DCCLX = 760), e sobreviveram (CCCL = 350).

A pose do leão foi copiada em 1894 por Thomas M. Brady (1849–1907) para o seu Leão de Atlanta, que comemora os soldados confederados desconhecidos sepultados no Cemitério de Oakland em Atlanta, na Geórgia. 




"O leão encontra-se no seu covil na face perpendicular de um pequeno penhasco — pois ele está gravado na rocha viva do penhasco. O seu tamanho é colossal, a sua atitude é nobre. A sua cabeça está arqueada, a lança partida está espetada no seu ombro, a sua pata protetora descansa sobre os lírios de França. Vinhas pendem do penhasco e acenam ao vento, e um curso de água límpido goteja do topo para um pequeno lago na base, e na suave superfície do lago espelha-se o leão, por entre os nenúfares.

Em seu redor há árvores verdes e relva. O local é refugiado, repousando num recanto de de um bosque, remoto do barulho, do tumulto e da confusão — e tudo isto se adapta, pois os leões morrem em tais locais, e não em pedestais de granito em praças públicas rodeado de muros com elaborados gradeamentos de ferro. O Leão de Lucerna seria impressionante em qualquer local, mas nunca tão impressionante como no local em que se encontra".

– Mark Twain, A Tramp Abroad


sábado, 28 de fevereiro de 2015

A Minha Dor

"A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal…
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias…
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve… ninguém vê… ninguém…"

(Florbela Espanca)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O Tigre

Tigre! Tigre, ardendo grave
Pelas florestas do entrave,
Que mão ou olho imortal
Modulou-te simetria tal?

Em abismos ou céus quais
Forjou teus olhos fatais?
A qual asa ousou imitar?
Que mão pôde o fogo apanhar?

Diga-me, qual braço, e qual arte,
O cárdio-tendão veio trançar-te?
Quando ele começou a bater,
Que terrível mão, e que ser?

Que martelo? Qual corrente?
Que fornalha forjou-te a mente?
Que bigorna e que tenaz
Tuas unhas tornou capaz?

Quando as estrelas com suas lanças
Cobriram de lágrimas as crianças,
Sorriu ao ver o seu trabalho?
Quem fez o Cordeiro, deu-te talho?

Tigre! Tigre, ardendo grave
Pelas florestas do entrave,
Que mão ou olho imortal
Ousou dar-te simetria tal?

(William Blake)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A Odisséia

"Agora, do peito aos olhos, a dor
da saudade lhe subiu, e ele chorou afinal,
a mulher querida, clara e fiel, em seus braços, 
desejada como a cálida terra ensolarada é desejada por um nadador
exausto nas águas revoltas onde seu navio foi a pique
sob os golpes de Netuno, temporais e muito mar.
Poucos homens sobrevivem ao atravessar uma grande arrebentação
para se arrastar, salgados, por praias benfazejas,
exultando, exultando, sabendo que o abismo ficou para trás,
e assim ela também está exultante, os olhos no marido,
os braços alvos a apertá-lo como se para sempre".

- de A Odisséia 
Homero 
a partir da tradução de Robert Fitzgerld

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O Poço

Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.

(Pablo Neruda)

domingo, 11 de janeiro de 2015

O Sistema do Doutor Alcatrão e do Professor Pena - Edgar Allan Poe

Antes de começar a postagem, gostaria de desejar um Feliz Ano Novo à todos! Bom, resolvi postar mais um conto fabuloso do Poe logo no começo porque acabei de assistir um filme chamado Stonehearst Asylum ou Eliza Graves que é baseado justamente nesta história do autor. O conto também é conhecido como O Sistema do Doutor Abreu (é desta forma que é referido nesta versão) e do Professor Pena.
Curiosidade: O conto de Machado de Assis, O Alienista, é baseado neste escrito de Poe.