sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Loucos & Santos

Escolho o meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e que aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela rosto exposto.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e a outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que 'normalidade' é uma ilusão imbecil e estéril.
(Oscar Wilde)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Brumas & Chuvas

Ó inverno, ó fim de outono, ó primavera em lama,
Dormidas estações! A minha alma vos ama
Por cobrirdes-me assim cérebro e coração
De sudário brumal, de tumba e de ilusão

Nesta grande planura em que o Astro se derrama,
Noite em que o cata-vento é uma voz rouca e brama,
A minha alma, melhor que na morna estação,
Suas asas de corvo abrirá na amplidão. 

Por certo ao coração, todo coisas esquálidas,
Sobre quem desce há muito o frio das nevadas,
Rainhas da atmosfera, ó estações descoradas,

Nada é mais doce que vossas trevas tão pálidas,
Se a dois e dois por noite, após um triste ocaso, 
Dormimos nossa dor por um leito de acaso. 

(Charles Baudalaire)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Soneto 96

De almas sinceras a união sincera. 
Nada há que impeça. Amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor. 

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora,
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se firma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou. 

(William Shakespeare)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mutability

" Descansamos; um sonho tem o poder de envenenar o sono.
 Levantamo-nos; um pensamento vagabundo polui o dia
Sentimos, concebemos ou raciocinamos; rimos ou choramos,
Abraçamos a amorosa dor ou repelimos nossas preocupações,
É o mesmo: pois, seja alegria ou tristeza,
O caminho de saída continua livre.
O ontem do homem talvez nunca seja como o amanhã.
Nada persiste, salvo a mutabilidade. "

(Percy Shelley)

domingo, 16 de setembro de 2012

Citação Lestat

Fujam de mim, ó mortais que são puros de coração. Fujam dos meus pensamentos, ó criaturas cheias de grandes sonhos. Afastam-se de mim, todos os hinos de glória. Sou o imã dos condenados. Pelo menos por um tempo. E então meu coração grita, meu coração não quer se calar, meu coração não desiste, meu coração não quer ceder...
... o sangue que ensina a vida não ensina mentiras e o amor volta a ser minha repreensão, meu tormento, minha canção. "

( Lestat de Lioncourt. Cântico de Sangue. P 285 )

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

À Você

Beijar o nácar, que te ascende os lábios,
Seria para mim prazer divino;

mas eu desprezo os risos da fortuna,

que podem profanar o meu destino.


Feliz de mim se repousasse um pouco,

sobre o teu níveo seio que palpita:

mas fere a maldição os meus desejos,

a paz voara e te deixara aflita.


Em silêncio nasceu, cresce em silêncio,

este amor infinito, único, eterno.

Irei agora, abrindo-te minha alma,

Exilar-te do céu, abrir-te o inferno?


Não, oh meu anjo, além escuto o eco

da maldição da nossa sociedade;

ouvi-lo, sem corar, não poderias,

expire pois a nossa felicidade.


Que importa o fogo que em meu peito lavra,

que importa a febre que me roí a vida,

se a tua correrá serena e pura,

de prazeres somente entretecida?


Roubar teu coração à paz dos anjos,

e nele despargir os meus amores,

oh! Fora um crime, um sacrilégio horrível;

para puni-lo não houveram dores.


E, pois, para livrar-te ao precipício,

Adeus, meu anjo, fugitivo corro:

rocem embora os teus, os lábios de outrem,

será breve o penar, porque já morro.


Sim, agonizarei talvez bem pouco,

Porque meus dias estão pedindo graça,

oh! Para possuir-te, afrontaria

infâmias, porém não tua desgraça.


Ao menos ficarás de um crime isenta,

O porvir para ti será de flores;

Que importa que minha alma se torture,

Se tu não sofrerás por meus amores?


(Lord Byron)