sexta-feira, 28 de junho de 2013

Um Sonho dentro de um Sonho

Tome este beijo sobre a têmpora
e, partindo de ti agora,
muito a dizer nesta franca hora
Você não está errado, quem diria
que meus sonhos têm sido o dia;
Ainda se a esperança fosse um açoite
em um dia, ou numa noite,
numa visão, ou em ninguém
É isso então o que está aquém?
Tudo o que vejo, tudo o que suponho
É só um sonho dentro de um sonho.

As ondas quebram e fico ao meio
de uma praia atormentada
e eu seguro em minhas mãos
uns grãos de areia dourada -
Quão poucos! E como se vão
Pelos meus dedos para o nada,
enquanto eu choro, enquanto eu choro!
Ó Deus! Eu Vos imploro:
Não posso mantê-los em minha teia?
Ó Deus! Posso eu proteger
das duras ondas um grão de areia?
Será que tudo o que vejo e suponho
É só um sonho dentro de um sonho?

(Edgar Allan Poe)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A Um Ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste?

(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Citações: Stephen King

Deixo algumas célebres frases do famoso e contemporâneo escritor de terror Stephen King.

"O verdadeiro Amor como qualquer outra droga forte que cause dependência, não tem graça. Assim que a fase do encontro e descoberta se encerra, os beijos se tornam surrados e as carícias cansativas... exceto, é claro, para aqueles que compartilham os beijos, que dão e recebem as carícias enquanto cada som e cada cor do mundo parecem se aprofundar e brilhar em volta deles.
Como acontece com qualquer outra droga forte, o primeiro amor verdadeiro só é realmente interessante para aqueles que se tornam seus prisioneiros. E como acontece com qualquer outra droga forte que cause dependência, o primeiro amor verdadeiro é perigoso. Os que estão sob o domínio de uma droga forte - heroína, erva-do-diabo, verdadeiro amor - frequentemente se veem tentando manter um precário equilíbrio entre discrição e êxtase, enquanto avançam na corda bamba de suas vidas. Manter o equilíbrio numa corda bamba é difícil até mesmo no estado mais sóbrio; fazer isso num estado de delírio é praticamente impossível. A longo prazo, é completamente impossível."

"As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar. São coisas das quais você se envergonha, pois as palavras diminuem-as, as palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas. Mas é mais que isso, não? As coisas mais importantes estão muito perto de onde seu segredo está enterrado, como pontos de referência para um tesouro que seus inimigos adorariam roubar. E você pode fazer revelações que lhe são muito difíceis e as pessoas o olharem de maneira esquisita, sem entender nada do que você disse nem por que eram tão importantes que você quase chorou quando estava falando. Isso é pior, eu acho. Quando o segredo fica trancado lá dentro não por falta de um narrador, mas de alguém que compreenda."

"O que estou dizendo é que estou tentando achar razões racionais para explicar sentimentos irracionais, e isso nunca é bom."

"Monstros são reais e fantasmas são reais também. Vivem dentro de nós e, às vezes, vencem."

"Crianças, ficção é a verdade dentro da mentira, e a verdade desta ficção é bastante simples: a magia existe."

"À noite, nossos pensamentos tem um modo desagradável de escaparem das coleiras e correrem livres. E se você tem passado a maior parte de sua vida adulta tecendo ficções, estou certo de que tais coleiras são mais frouxas ainda e os cães, menos ansiosos para usá-las."

"O corpo é um envelope para a alma."

"Temos medo de tudo: do desconhecido, do abismo, da noite, das tempestades, da selva e dos desertos. Na hora de escrever, basta pensar que aquilo que me assusta provavelmente também assusta os outros. Em algum lugar dentro de nós existe uma chave que acende o medo; ai onde se instala o conto de terror, quando está bem escrito, pois o homem sente mais atraído por monstros e dragões do que por heróis. Como impossível estar sempre lutando contra nossos próprios demônios e males, de vez em quando sentimos necessidade de levá-los pra passear."

domingo, 16 de junho de 2013

Soneto

Quando fico a pensar poder deixar de ser
antes que a minha pena haja tudo traçado,
antes que em algum livro ainda possa colher
dos grãos que semeei o fruto sazonado;

quando vejo na noite os astros a brilhar
- vasto e obscuro Universo, impenetrável mundo! -
quando penso que nunca hei de poder traçar
sua imagem com arte e em sentido profundo;

quando sinto a fugaz beleza de alguma hora
que não verei jamais – como doce miragem –
turva-se a minha mente, e a alma em silêncio chora

um impulsivo amor. E a sós, me sinto à margem
do imenso mundo, e anseio imergir a alma em nada
até que a glória e o amor me dêem a hora sonhada!

(John Keats)

* Londres, Inglaterra – 31 de Outubro de 1795 d.C
+ Londres, Inglaterra – 23 de Fevereiro de 1821 d.C


Poeta inglês considerado um dos maiores nomes do romantismo na Inglaterra. Sua obra oscila entre as freqüentes referências à morte e um intenso sentimento de prazer com a vida. Influenciado pelos poetas gregos do período helênico, como Homero, bem como pelos poetas elizabetanos do século XVI, persegue a perfeição estética.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Estâncias para a Música

Alegria não há que o mundo dê, como a que tira.
Quando, do pensamento de antes, a paixão expira
Na triste decadência do sentir;
Não é na jovem face apenas o rubor
Que esmaia rápido, porém do pensamento a flor
Vai-se antes de que a própria juventude possa ir.
Alguns cuja alma bóia no naufrágio da ventura
Aos escolhos da culpa ou mar do excesso são levados;
O ímã da rota foi-se, ou só e em vão aponta a obscura
Praia que nunca atingirão os panos lacerados.
Então, frio mortal da alma, como a noite desce;
Não sente ela a dor de outrem, nem a sua ousa sonhar;
toda a fonte do pranto, o frio a veio enregelar;
Brilham ainda os olhos: é o gelo que aparece.
Dos lábios flua o espírito, e a alegria o peito invada,
Na meia-noite já sem esperança de repouso:
É como na hera em torno de uma torre já arruinada,
Verde por fora, e fresca, mas por baixo cinza anoso.
Pudesse eu me sentir ou ser como em horas passadas,
Ou como outrora sobre cenas idas chorar tanto;
Parecem doces no deserto as fontes, se salgadas:
No ermo da vida assim seria para mim o pranto.

(Lord Byron)

terça-feira, 4 de junho de 2013

Coração Partido

Escrito pelo americano Washington Irving (New York. 3 de Abril de 1783 - 28 de Novembro de 1859), ficou famoso pelo conto O Cavaleiro Sem Cabeça, publicado em 1820 uma das histórias de ficção mais antigas norte-americana lida até hoje. 

Foi adaptado algumas vezes para o cinema, os mais conhecido são: de 1922 como 'The Headless Horseman' e mais tarde em 1999 com o nome de 'Sleepy Hollows' produzido por Tim Burton e  estrelado por Johnny Depp como Ichabod Crane. Existem várias diferenças entre a verdadeira obra e os filmes, mas esta última deu uma 'nova versão' ao Cavaleiro Sem Cabeça muito interessante. 

O Clube do Livro em 1972 publicou alguns de seus contos junto com a do Cavaleiro Sem Cabeça. Uma das histórias é o Coração Partido, que relata a angústia de uma donzela que tem seu enamorado morto e sofre com sua partida. No final, tem-se um belo poema do irlandês Thomas Moore (1779-1852) o qual deixo a baixo. 

"Ela esta longe desta terra, onde repousa o seu jovem heroí; ao seu redor suspiram os seus [admiradores;]
e ela regressa da contemplação, e chora, pois jaz seu coração no túmulo em que jazem seus amores.

Ela canta baladas das planícies de seu pais natal, que o deliciavam e o faziam acordar [sorrindo.]

Mas imagina quem com seus acordes se deleita,
até que ponto o coração do menestrel se está partindo.

Ele viveu por seu amor, morreu por sua pátria,
que o mantinha à vida entrlaçado.
Nem secarão tão cedo as lágrimas da pátria,
nem sobreviverá de muito a amada ao seu amado. 

Fazei para ela a tumba onde se deita o Sol, 
quando promete um amanhã de rútula grandeza.
Sobre o seu sono o Sol refulgirá como um sorriso vindo do [poente;]
da sua própria amada ilha da tristeza!"

(Thomas Moore)

sábado, 1 de junho de 2013

Penelope's Song - Loreena McKennitt

Além do bom e velho rock 'n' roll, óperas, músicas clássicas e symphonic metal, adoro músicas folks/célticas e outras do estilo. Principalmente uma cantora canadense, Loreena McKennitt. Suas músicas são calmas, com uma profundidade e melodias lindas, suas letras são incomparáveis e sensíveis. Um bálsamo eu diria. Suas letras e canções por terem um som um tanto medieval, remontam-me à épocas passadas e sentimentos perdidos. 

Então deixo neste dia nublado, frio e chuvoso (aqui na minha cidade) uma música sua onde a tradução foi feita por mim. Espero que também gostem e se encantem por esta maravilhosa artista. 

Sinto o tempo se aproximar...
Logo o dia se esvaí, 
Em algum litoral distante
Você me ouvirá dizer...

Longo como os dias de verão, 
Profundo como o negro-vinho mar
Guardarei seu coração junto ao meu.
Até o dia que virá até a mim. 

Lá como um passarinho voarei
Alto sob os céus.
Alcançando os raios do sol. 
Somente para o encontrar.

E pela noite, quando nossos sonhos estão parados,
Ou os ventos nos chamar...
Guardarei seu coração junto ao meu.
Até o dia que virá até a mim. 

Agora que o tempo aproxima, 
Logo o dia se esvaí,
Em algum litoral distante, 
Você me ouvirá dizer... 

Longo como os dias de verão,
Profundo como o negro-vinho mar,
Guardarei seu coração junto ao meu,
Até o dia que virá até a mim. 

Penelope's Song - Original

Em meu humilde pensamento penso que esta canção é de Penélope para Ulisess, que por vinte anos espera a volta de seu marido da Guerra de Tróia. Que é tema do livro A Odisseia de Homero.