quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Brumas & Chuvas

Ó inverno, ó fim de outono, ó primavera em lama,
Dormidas estações! A minha alma vos ama
Por cobrirdes-me assim cérebro e coração
De sudário brumal, de tumba e de ilusão

Nesta grande planura em que o Astro se derrama,
Noite em que o cata-vento é uma voz rouca e brama,
A minha alma, melhor que na morna estação,
Suas asas de corvo abrirá na amplidão. 

Por certo ao coração, todo coisas esquálidas,
Sobre quem desce há muito o frio das nevadas,
Rainhas da atmosfera, ó estações descoradas,

Nada é mais doce que vossas trevas tão pálidas,
Se a dois e dois por noite, após um triste ocaso, 
Dormimos nossa dor por um leito de acaso. 

(Charles Baudalaire)

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