quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

(Vinícius de Moraes)
Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Citação: Rei do Inverno

Uma das passagens mais românticas do primeiro volume das Crônicas do Rei Arthur. Tive a oportunidade de ler vários autores que escreveram sobre a lenda deste magnífico guerreiro bretão, mas,em minha humilde opinião de leitora assídua, talvez este seja o melhor livro sobre o Rei Arthur que tenha lido. História perfeitamente bem escrita e envolvente, paisagens esplendorosas, personagens muito bem desenvolvidos, e as descrições das batalhas tão reais que temos a sensação de estar presente. A citação transcrita do livro é  de Lord Derfel Cadarn a sua amada donzela, Ceinwyn de Powys, 

"Entendo que é possível olhar nos olhos de alguém e de súbito saber que a vida será impossível sem eles. Saber que a voz da pessoa pode fazer seu coração falhar, e que a sua companhia é tudo que sua felicidade pode desejar, que sua ausência deixará sua alma solitária, desolada e perdida."

(Bernard Cornwell. As Crônicas do Rei Arthur: O Rei do Inverno. pgs 456/457)

sábado, 19 de janeiro de 2013

Citações: O Corvo

Filme produzido em 1994, adaptação de uma HQ de James O'Barr.  Protagonizado pelo eterno Brandon Lee, que tragicamente morreu em uma das cenas do filme.

O enredo gira em torno de Eric Draven líder de uma banda de rock chamada Hangman's Joke, e sua noiva Shelly Webster que são brutalmente assassinados na Noite do Demônio (Devil's Night), véspera do Halloween. Um ano após a tragédia, na mesma data, Eric volta do Mundo dos Mortos, guiado por um corvo, para vingar-se de seus algozes. Os ambientes do filme são escuros, dando o aspecto de uma noite sem fim, e chuvosa. Um ar triste, melancólico e dramático para o personagem, que procura vingança. Podemos ver durante a história o eterno e puro amor que sente por Shelly, motivo de sua volta dos mortos. Além do enredo cativante, uma coisa que me chamou a atenção foi a 'máscara' que Eric decide usar, a do Pierrô que na Commedia dell'Arte é um palhaço triste, também representado como sendo um lunático, distante e inconsciente da realidade. Um Coringa versão dark.
Outro fato é que em uma das cenas, ele cita a passagem do texto O Corvo de Edgar Allan Poe. E o último nome de Eric, Draven, se tirarmos o 'D' fica Raven que é corvo em inglês...
Mais uma vez, deixo algumas passagens do filme que me marcaram. 

"No passado, as pessoas acreditavam que, quando alguém morria, um corvo carregava sua alma para a Terra dos Mortos. Mas às vezes acontece algo tão ruim que uma tristeza terrível é levada junto com a alma, e assim a alma não consegue descansar. Mas às vezes, somente às vezes, O Corvo consegue trazer a alma de volta para resolver o que está errado..."

"Não pode chover o tempo todo. O céu não pode cair para sempre. E embora a noite pareça longa, suas lágrimas não podem cair para sempre."



"Quando a pessoa que amamos é tirada de nós, a única maneira de mantê-la viva dentro do nosso coração é continuá-la amando, prédios queimam, pessoas morrem, mas o amor, o verdadeiro amor, é eterno."

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Lestat Lioncourt: O Magnífico

"Eu disse que voltaria, não disse?
Sou irreprimível, imperdoável, incontrolável, despudorado, inconseqüente, irremediável, sem coração, irrefreável, a criança rebelde, destemido, impenitente, sem salvação. Sou o Vampiro Lestat." (pg. 20)

"Quero que leiam cada página que escrevo. Quero que minha prosa os envolva. Se eu pudesse, beberia seu sangue para os viciar em cada lembrança que tenho dentro de mim, cada mágoa, cada referência, cada vitória temporária, derrota mesquinha, momento místico de entrega." (pg. 11)

"Quando nossos olhos se encontraram,vi seu pleno reconhecimento, respeito e compreensão da minha devoção, tão profundos que não pude encontrar palavras no silêncio vertiginoso. E assim, a poesia alça vôo, ultrapassando a literalidade: És formosa,meu amor, terrível como um exército com estandartes, desvia de mim teus olhos porque eles me ofuscam, um jardim fechado é minha irmã, minha noiva: nascente lacrada, fonte selada." (pg.129)

"Enquanto me aproximava do carvalho, enquanto sonhava e entremeava nos meus sonhos fragmentos de poesia, poesia que eu roubava, partia e entretecia com meus desejos: Tu arrebatas meu coração, minha irmã, minha noiva... como é lindo meu amor. Não posso imaginar? Não posso sonhar? Fixa-me como um selo em teu coração. Minha mente desaba sobre si mesma e sua poesia: És toda formosa, meu amor. Não há mácula em ti." (pg. 278)  

"Ela se levantou para meus braços que a esperavam. Abracei essa criatura dócil, febril, e minha alma se abriu. 'Te amo, te amo como nunca amei. Te amo acima da prudência, acima da coragem, acima do charme do mal, acima de todas as riquezas e do próprio Sangue, te amo com meu coração humilde que eu nunca soube que possuía, minha querida dos olhos cinzentos, minha esplendorosa, minha mística da magia médica, minha sonhadora... Ai deixa-me envolver-te com meus braços, não me atrevo a te beijar, não me atrevo..." (pg. 278/279)

Estas são apenas algumas das melhores passagens do último livro das Crônicas Vampirescas de Anne Rice, mestra do gótico, do romântico obscuro. Se pudesse colocaria mais frases do Lestat, mas se fosse assim, teria que digitar todas as 285 páginas do livro. História cativante como todas as outras crônicas, mas esta em especial une outros dois livros de Rice As Bruxas Mayfair e Taltos. Que também são imperdíveis. 

domingo, 13 de janeiro de 2013

Ofélia de Shakespeare

Não há outra personagem de Shakespeare que tenha sido mais retratada em pinturas do que Ofélia. Personagem secundária da peça teatral Hamlet. Escrita em 1601 e considerada sua obra mais densa, Hamlet, obra e personagem, influenciaram profundamente a cultura ocidental. 

Paradoxalmente, o interesse de diversos pintores ao longo dos tempos recaiu exatamente sobre Ofélia, mais precisamente sobre sua loucura e sua morte nas águas. A predileção pela personagem, em detrimento de outras, é considerável: não há outra personagem de Shakespeare que tenha sido mais retratada na pintura. Desde 1740, quando se teve notícia das primeiras ilustrações da peça, ela foi retomada pelas artes plásticas como o arquétipo da donzela indefesa. Derivada do tipo feminino da noiva ou amada morta em plena juventude – tipo caro aos poetas românticos – representava um modelo espiritualizado e espectral de mulher. Saber Projetos Culturais

Em Hamlet, Shakespeare revela seu profundo conhecimento do ser humano. A descrição da morte de Ofélia é uma das passagens mais poéticas da literatura mundial. A personagem, desesperada não percebe sua própria desgraça, de modo que canta até seu último fôlego, refletindo assim o que diz Hamlet sobre o suicídio: “Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se.” A morte cantante de Ofélia traduz o alívio de uma alma conturbada, pode-se perceber durante a leitura que ela é a mistura do catolicismo quando é descrita como donzela, mas também do pagão quando a comparam com uma ninfa, tornando a personagem um duo, duas Ofélias.

Um filme que mostra uma cena semelhante à morte de Ofélia é Melancolia (2011) de LarsVon Trier. 

Deixo então a passagem da Rainha Gertrudes, comunicando ao irmão de Ofélia, Laerte, a morte da donzela.


Ofélia (1863-64) de Arthur Hughes
" Por sobre uma nascente há um salgueiro inclinado
Que espalha as folhas gris no líquido cristal.
Ali fez fantásticas guirlandas, de urtigas,
Margaridas, ranúnculos e orquídeas púrpuras,
A que os ímpios zagais dão um nome vulgar
E as castas virgens chamam “dedos-de-defunto”.
(...) E então tombaram ela e seus troféus floridos
No plangente riacho. Suas roupas se abriram,
E, como uma sereia, boiou por instantes.
E aí entoou refrões de antigas cantorias
Como alguém insensível à própria agonia
Ou como um ente nato e de todo integrado
À água que escorria. Porém, não demorou
E suas vestes, pesando da água que bebiam,
Arrastaram a infeliz de suas doces cantigas
Para os lodos da morte. "
(4.7.165-170/173-182)


Ofelia (1852). John Everett Millais. Galeria Tates.



segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O Coração Delator - Edgar Allan Poe

Hoje é dia do leitor e em comemoração a esta data, deixo um conto do famoso escritor de horror Sr.Poe, que influenciou tantos outros renomados escritores como H.P.Lovecraft, Charles Baudelaire, Gaston Leroux, etc.

É verdade! Nervoso, muito, muito nervoso mesmo eu estive e estou; mas por que você vai dizer que estou louco? A doença exacerbou meus sentidos, não os destruiu, não os embotou. Mais que os outros estava aguçado o sentido da audição. Ouvi todas as coisas no céu e na terra. Ouvi muitas coisas no inferno. Como então posso estar louco? Preste atenção! E observe com que sanidade, com que calma, posso lhe contar toda a história.

É impossível saber como a idéia penetrou pela primeira vez no meu cérebro, mas, uma vez concebida, ela me atormentou dia e noite. Objetivo não havia. Paixão não havia. Eu gostava do velho. Ele nunca me fez mal. Ele nunca me insultou. Seu ouro eu não desejava. Acho que era seu olho! É, era isso! Um de seus olhos parecia o de um abutre - um olho azul claro coberto por um véu. Sempre que caía sobre mim o meu sangue gelava, e então pouco a pouco, bem devagar, tomei a decisão de tirar a vida do velho, e com isso me livrar do olho, para sempre.

domingo, 6 de janeiro de 2013

O Rouxinol e a Rosa - Oscar Wilde

"Ela disse que dançaria comigo se eu lhe trouxesse rosas vermelhas", exclamou o jovem Estudante, "mas em todo o meu jardim não há nenhuma rosa vermelha."

Do seu ninho no alto da azinheira, o Rouxinol o ouviu, e olhou por entre as folhas, e ficou a pensar.

"Não há nenhuma rosa vermelha em todo o meu jardim!", exclamou ele, e seus lindos olhos encheram-se de lágrimas. "Ah, nossa felicidade depende de coisas tão pequenas! Já li tudo que escreveram os sábios, conheço todos os segredos da filosofia, e no entanto por falta de uma rosa vermelha minha vida infeliz."

"Finalmente, eis um que ama de verdade", disse o Rouxinol. "Noite após noite eu o tenho cantado, muito embora não o conhecesse: noite após noite tenho contado sua história para as estrelas, e eis que agora o vejo. Seus cabelos são escuros como a flor do jacinto, e seus lábios são vermelhos como a rosa de seu desejo; porém a paixão transformou-lhe o rosto em marfim pálido, e a cravou-lhe na fronte sua marca."

"Amanhã haverá um baile no palácio do príncipe", murmurou o jovem Estudante, "e minha amada estará entre os convidados. Se eu lhe trouxer uma rosa vermelha, ela há de dançar comigo até o dia raiar. Se lhe trouxer uma rosa vermelha, eu a terei nos meus braços, e ela deitará a cabeça no meu ombro, e sua mão ficará apertada na minha. Porém não há nenhuma rosa vermelha no meu jardim, e por isso ficarei sozinho, e ela passará por mim sem me olhar. Não me dará nenhuma atenção, e meu coração será destroçado."