quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Trecho: E O Vento Levou...

Uma das histórias de amor mais famosas da literatura, obra-prima de Margaret Mitchell, retrata de forma vívida a Guerra Civil norte-americana. O belíssimo Sul entra em ruínas quando estoura a guerra. As ricas fazendas, o cavalheirismo, a graça e a tranqüilidade do sul aristocrata devastado pelo combate, enterra para sempre um estilo de vida. Desenvolve-se neste cenário assolado, uma paixão entre duas pessoas tão semelhantes e orgulhosas: Scarlett O'Hara uma frívola beldade sulista que ao ser forçada a enfrentar os horrores da guerra endurece e se torna mais obstinada. E Rhett Butler, um irresistível e charmoso aventureiro, um homem que ela jamais percebe que ama, até o fim. 

Em 1937 além do livro receber o Prêmio Pulitzer houve uma adaptação em 1939 para o cinema como os eternos atores Clark Gable (como Rhett Butler) e Vivien Leigh (como Scarlett O'Hara). Indicado a 13 Oscar ganhando oito.

Tanto o livro quanto o longa merecem ser vistos, duas obras inesquecíveis, imortalizadas. Que descreve o triste destino dos malfadados amantes que nunca conseguiram ser felizes. 


 " Com uma rapidez que a deixou atordoada, ele escorregou do sofá e se pôs de joelhos e, com uma das mãos delicadamente posta sobre o coração, recitou apressadamente:

- Perdoe-me por assustá-la com a impetuosidade de meus sentimentos, minha querida Scarlett... Não pode ter-lhe passado despercebido que faz algum tempo a amizade que tenho em meu coração por você amadureceu, transormando-se em um sentimento mais profundo, um sentimento mais belo, mais puro, mais sagrado. Ouso nomeá-lo? Ah! é o amor que me torna tão ousado! "


( Rhett Butler. Margaret Mitchell. E O Vento Levou - pg. 769/770)


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Citações Vampíricas (Parte II) ~

" Assim estendemos a mão para o caos furioso, apanhamos alguma coisa pequena e brilhante e nos agarramos a ela, dizendo para nós mesmos que ela tem significado, que o mundo é bom, que não somos a encarnação do mal e que no fim, iremos para casa."
(Lestat de Lioncourt)

" É você quem guarda rancores, acha que vivo no passado. Você não entende que eu mudo a cada era, da melhor mandeira possível."
(Armand)

" Nós, vampiros, não acertamos antigas desavenças. Nós a cultivamos."
(Lestat de Lioncourt)

" Por mais longa que seja nossa existência, temos nossas lembranças - pontos no tempo que o próprio tempo não consegue apagar. O sofrimento pode deturpar vislumbres do passado, mas mesmo diante do sofrimento, algumas lembranças se recusam a perder seja o que for da sua beleza ou do seu esplendor. Pelo contrário, elas permanecem sólidas como pedras preciosas."
(Marius)

" A ausência do amor é o sofrimento mais desprezível."
(Conde Drácula)

" Não existe más idéias. Só idéias incríveis sendo mal executadas." 
(Damon Salvatore)

" Não me entenda errado, Stefan. Eu não ligo de ser o cara mau. Eu vou tomar todas as decisões de vida ou morte, enquanto você está ocupado preocupando-se com os danos colaterais. Até mesmo vou deixar que ela me odeie. Mas no final do dia, eu vou ser aquele que vai mantê-la viva. "
(Damon Salvatore para Stefan Salvatore)

" Aquilo que se faz por amor, está sempre além do bem e do mal."
(Damon Salvatore)

" Você sente minha solidão, minha amargura por ser excluído da vida. Minha amargura por ser algo maligno, porque não mereço ser amado e, no entanto, preciso de amor com toda minha ânsia. Mas essas coisas não me detêm. Sou forte demais para que elas possam me deter. Como você mesma disse um dia: sou muito bom em ser  o que sou. Essas coisas apenas me fazem sofrer de vez em quando, só isso."
(Lestat de Lioncourt)

Espero que tenham gostado das poucas frases que escolhi, são algumas das minhas favoritas. Enfim, quem sabe algum dia minha prece chegue aos ouvidos imortais de algum destes Príncipes da Noite. Uma última que deixo para encerrar, será do meu eterno Príncipe Moleque Lestat: " Venham. Venham vampiros, me achar onde estiverem."

Citações Vampíricas (Parte I) ~

Como o fim do Mundo passou, e nós meros mortais ainda existimos, não resisti em postar várias frases dos mais famosos vampiros da literatura. Uma humilde homenagem desta mortal apaixonada por seres imortais... 

" Tente ver o mal que eu sou. Ando pelo mundo em trajes de mortal, o pior dos demônios. O monstro que se parece exatamente com todo mundo. "
(Lestat de Lioncourt)

" Atravessei oceanos de tempo para encontrar-te. "
(Conde Drácula)

" O mal é sempre possível. E a bondade é eternamente difícil. "
(Louis de Pointe du Lac)

" Nenhuma morte pode ser enorme como a vida..."
(Lestat de Lioncourt)

" Temos sangue nas mãos, todos nós, exatamente como em nossas veias. "
(A Rainha dos Condenados: Akasha)

" Com uma exceção, não é nenhuma luz do dia, mas luz estrelada e luar. Durante as longas horas de meia-noite, eu penduro debaixo de sua janela e imagino o com o que você está sonhando. Eu costumava evoluir na escuridão; agora, eu quase me ressinto com isto. "
(Alexander)

" Estava morto até que me encontrou, embora respirasse. Estava cego, embora pudesse ver. E, então chegou você... E despertei. " 
(Livro: Amante Desperto)

" É dito que o sangue é mais grosso que a água. É o que nos define, nos une, nos amaldiçoa.
Para alguns, sangue significa uma vida cheia de riquezas e privilégios. Para outros, uma vida de servidão. "
(Barnabas Collins - Sombras da Noite)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Os Sete Corvos - Irmãos Grimm

Continuando a postagem anterior, escrevo um pequeno conto dos Grimm.
Era uma vez um homem que tinha sete filhos, todos meninos, e vivia suspirando por uma menina.
Afinal, um dia, a mulher anunciou-lhe que estava mais uma vez esperando criança.
No tempo certo, quando ela deu à luz, veio uma menina. Foi imensa a alegria deles. Mas, ao mesmo tempo, ficaram muito preocupados, pois a recém-nascida era pequena e fraquinha, e precisava ser batizada com urgência. Então, o pai mandou um dos filhos irem bem depressa até a fonte e trazer água para o batismo.

O menino foi correndo e, atrás dele, seus seis irmãos. Chegando lá, cada um queria encher o cântaro primeiro; na disputa, o cântaro caiu na água e desapareceu. Os meninos ficaram sem saber o que fazer. Em casa, como eles estavam demorando muito, o pai disse, impaciente:

- Na certa, ficaram brincando e se esqueceram da vida!
E, cada vez mais angustiado, exclamou com raiva:
- Queria que todos eles se transformassem em corvos!

Nem bem falou isso, ouviu um ruflar de asas por cima de sua cabeça e, quando olhou, viu sete corvos pretos como carvão passando a voar por cima da casa. Os pais fizeram de tudo para anular a maldição, mas nada conseguiram; ficaram tristíssimos com a perda dos sete filhos. Mas, de alguma forma, se consolaram com a filhinha, que logo ficou mais forte e foi crescendo, cada dia, mais bonita. Passaram-se anos. A menina nunca soube que tinha irmãos, pois os pais jamais falaram deles. Um dia, porém, escutou acidentalmente algumas pessoas falando dela:

- A menina é muito bonita, mas foi por culpa dela que os irmãos se desgraçaram…

Com grande aflição, ela procurou os pais e perguntou- lhes se tinha irmãos, e onde eles estavam. Os pais não puderam mais guardar segredo. Disseram que havia sido uma predestinação do céu, mas que o batismo dela fora a inocente causa. A partir desse momento, não se passou um dia sem que a menina se culpasse pela perda dos irmãos, pensando no que fazer para salvá-los.
Não tinha mais paz nem sossego. Um dia, ela fugiu de casa, decidida a encontrar os irmãos onde quer que eles estivessem, nesse vasto mundo, custasse o que custasse. Levou consigo apenas um anel de seus pais como lembrança, um pão grande para quando tivesse fome, um cantil de água para matar a sede e um banquinho para quando quisesse descansar.
Foi andando, andando, se afastando cada vez mais, e assim chegou ao fim do mundo. Então, foi falar com o sol. Mas ele era assustador, quente demais e comia crianças. A menina fugiu e foi falar com a lua. Ela era horrorosa, mais fria que o gelo, e também comia crianças. Quando viu a menina, disse com um sorriso mau:

- Hum, hum… que cheirinho bom de carne humana!

A menina se afastou correndo e foi falar com as estrelas. Encontrou–as sentadas, cada uma na sua cadeirinha. Todas elas foram bondosas e amáveis com ela. A Estrela D’alva ficou em pé e lhe deu um ossinho de frango, dizendo:

- Sem este ossinho, você não poderá abrir a Montanha de Cristal, e é na Montanha de Cristal que estão seus irmãos.

A menina pegou o ossinho, embrulhou-o num pedaço de pano, e de novo se pôs a andar. Andou, andou e afinal chegou à Montanha de Cristal. O portão estava fechado; quando desembrulhou o paninho para pegar o osso, ele estava vazio! Ela havia perdido o presente da estrela… E agora, o que fazer? Queria salvar os irmãos, mas não tinha mais a chave da Montanha de Cristal. Sem pensar muito, meteu o dedo indicador dentro do buraco da fechadura e girou-o, mas o portão continuou fechado. Então, pegou uma faca em sua trouxinha, cortou fora um pedaço do dedo mindinho, meteu o pedaço do dedo na fechadura: felizmente, o portão se abriu. Assim que ela entrou, um anãozinho veio a seu encontro:

- O que esta procurando, minha menina?
- Procuro meus irmãos, os sete corvos.
- Os senhores corvos não estão em casa e vão se demorar bastante. Mas, se quiser esperar, entre e fique à vontade.

Assim dizendo, o anãozinho foi para dentro e voltou trazendo a comida dos corvos em sete pratinhos, e a bebida em sete copinhos. A menina comeu um bocadinho de cada prato e bebeu um golinho de cada copo, mas deixou cair o anel que trouxera dentro do último copinho. Nesse momento, ouviu-se um zunido e um bater de asas no ar.

- São os senhores corvos que vêm vindos – explicou o anãozinho. Eles entraram, quiseram logo comer e beber e se dirigiram para seus pratos e copos. Então um disse para o outro:
- Alguém comeu no meu prato! Alguém bebeu no meu copo! E foi boca humana!
E quando o sétimo corvo acabou de beber a última gota de seu copo, o anel rolou até o seu bico. Ele reconheceu o anel de seus pais e exclamou:
- Queira Deus que nossa irmãzinha esteja aqui! Então, estaremos salvos!

Ao ouvir esse pedido, a menina, que estava atrás da porta, saiu e foi ao encontro deles. Imediatamente, os corvos recuperaram sua forma humana. Abraçaram-se e se beijaram na maior alegria e, muito felizes, voltaram todos para casa.

Os Irmãos Grimm: Vida & Obra

Hoje dia 20/12/2012 véspera do fim do Mundo vamos comemorar o 200º Aniversário dos Irmãos Grimm. Por isso, resolvi descrever um pouco da vida e obra destes dois famosos escritores clássicos eternizados em Contos de Fadas. Se não fosse por eles e suas histórias que ouvi e aprendi desde criança, talvez não teria esta imaginação fértil que possuo. 

Os irmãos Grimm, que nos legaram os contos hoje conhecidos como “Os Contos dos Irmãos Grimm”, eram sisudos eruditos que dedicaram boa parte de suas vidas à pesquisa.

Jacob nasceu em 1785 e Wilhelm, um ano depois. O pai deles, um advogado, faleceu quando eram ainda crianças, mas a mãe decidiu que os dois seguiriam os passos do pai – o que fizeram com o auxílio financeiro de uma tia. Nasceram em Hanau, Hesse, e freqüentaram a universidade em Kassel, onde ambos formaram-se com sucesso em Direito. Não possuíam recursos para se estabelecerem como advogados e precisavam sustentar a mãe, então acei­ta­ram o que lhes foi oferecido. Jacob tornou-se assistente de um faoso especialista em lei romana, o Professor Savigny, quem lhe ensinou a pesquisa e plantou em sua mente tal amor por esta. Jacob tornou-se um dos grandes homens de seu tempo – não em matérias de lei, mas em filo­logia, o estudo da linguagem. Ambos irmãos eram fascinados por este estudo e seus interesses eram tão abrangentes e profundos que o Professor William P. Ker descreveu a filologia como sendo, para eles, o estudo não apenas das palavras, mas da História, da Alemanha, da Idade Média, das Letras Clássicas e da Raça Humana.

Logo Jacob e Wilhelm conseguiram ocupações que lhes permitiram dedicarem-se a seus interesses pessoais, dando início a um tratado sobre a língua germânica. Desenvolveram uma teoria que ficou universalmente conhecida como a Lei dos Grimm. Em todos os seus estudos foram pioneiros, começando do zero, sem nada, em absoluto, em que apoi­a­­­rem-se: nem estudos anteriores de outros, nem dicio­nários ou guias de raízes e derivações das palavras. Sob certo aspecto, Jacob foi melhor estudio­so, Wilhelm, melhor escritor, mas trabalhavam juntos em tal colaboração que é quase impossível distinguir suas contribuições. Por dez anos dedi­caram-se à Gramática Germânica; depois enfro­nharam-se na mitologia de sua gente com o mes­mo afinco, determinados em estabelecer algo comparável aos mitos nórdicos e eslavos, já bastante divulgados. Foi esta tarefa que concedeu ao mundo os contos de fadas, coletados como parte da evidência necessária desse trabalho mais amplo.

Estes contos passavam oralmente das mães aos filhos, ninguém sabia há quantas gerações, sem jamais haverem tido as formas de suas histórias fixadas pela escrita. Assim, uma família de, digamos, lenhadores ou carvoeiros que vivesse há séculos nas densas florestas poderia relatá-las de modo bem diferente de uma outra família que houvesse sempre vivido em re­giões de céu aberto ou nas fazendas dos vales.

Jacob e Wilhelm ouviram com freqüência esses contos na infância, mas agora os examinavam com outros olhos, olhos críticos, e com a esperança de que iluminassem a história, as crenças e os costumes da longa sucessão de camponeses alemães que haviam concedido a essas histórias suas formas finais. Os irmãos va­lo­rizavam as histórias por seu material folclórico, sendo portanto essencial que fossem obtidas tantas versões de cada história quantas possíveis, e que cada uma fosse registrada com absoluta fidelidade ao relato feito pelos camponeses em suas choupanas. “Não acrescentamos nada de nosso”, declararam quando da publicação dos contos, “não embelezamos nenhum de seus eventos ou traços característicos. Cada história é recontada substancialmente co­mo a recebemos, embora precisássemos de algu­ma habilidade para distinguirmos suas versões”. Os Grimm encarregaram algumas pessoas de confiança de irem às cozinhas buscar com as mulheres mais idosas as histórias. Estes assistentes ouviam a mesma história vezes sem conta até as terem em todas as suas riquezas de dialetos e detalhes. Então os irmãos trabalhavam nos relatos com a precisão e o método característicos de seu povo, tomando uma frase aqui, uma palavra ali, como testemunhos de lendas e mitos esquecidos. Para eles, os gnomos, as fadas, os gi­gantes, os duendes das minas e os duendes ami­gos dos homens eram parte de um passado esquecido. A bacia de leite posta junto às brasas da lareira à noite pelas donas de casa para agradar aos duendes amigos indicava, aos olhos desses filólogos, um elo direto com os sacrifícios oferecidos antigamente aos deuses nos altares. Os irmãos aprenderam que um gigante podia, aparentemente, ser tão velho quanto as montanhas, embora um anão já fosse um adulto aos três anos de idade, e um velhote, aos sete. Descobriram que algumas crianças saudáveis eram substituídas em seus berços pelas crias das fadas para que estas últimas melhorassem os seus físicos franzinos, e que os buracos dos nós das madeiras eram portas pelas quais os duen­des e as fadas adentravam às habitações humanas jun­to com os raios de sol.

Os Grimm demonstravam através de suas personalidades a meticulosidade e a solenidade típicas dos germânicos: pouco senso de humor e uma certa tendência para o romântico – que levou Jacob a admitir que, mesmo em idade bem avançada, a mera palavra “misterioso” continuava a entusiasmá-lo. Na juventude, ao menos, ele também demonstrara verdadeiro prazer pelas coisas simples do campo. Os irmãos dedicaram sua Gramática a Savigny, e Jacob escreveu que o verdadeiro poeta “é como um homem que se sente imensamente feliz onde quer que esteja, se lhe for permitido apreciar as folhas e a relva, observar o sol se levantar e se pôr. O falso poeta viaja ao estrangeiro e anseia por se exaltar com as montanhas da Suíça, os céus e os mares da Itália. Ele vai a estes lugares, mas permanece insatisfeito. Não é tão feliz quanto o homem que fica em casa e vê a macieira florescer na primavera e escuta os passarinhos cantarem em seus galhos”.

O primeiro volume de Kindermärchen foi publicado em 1812, o segundo em 1815, o ano da batalha de Waterloo. É estranho imaginar esses dois irmãos obstinadamente prosseguindo com suas pesquisas sobre o folclore germâ­nico durante os conturbados anos das guerras napoleônicas, que tão diretamente afetaram o seu solo nativo – Napoleão havia incorporado Hesse e Kassel ao novo Reino de Westfália. Tal­vez seja ainda mais estranho que a tradução dos contos tenha chegado à Inglaterra tão rápido – apenas oito anos depois.

Na Inglaterra, os contos de fadas haviam tido a este tempo suas existências praticamente eliminadas pela sisudez inglesa. Eram classificados de injuriosas tolices, capazes de perturbar as crianças; e uma época de contos morali­zantes e fatos de interesse em formatos digeríveis tivera início. É provável que a própria seriedade com a qual os irmãos Grimm ha­viam coletado os contos tenha ajudado a torná-los mais aceitáveis na Inglaterra, abrindo assim mais uma vez os portões das terras das fadas às crianças inglesas.

Sir Walter Scott procedera da mesma forma ao esquadrinhar as fronteiras em busca das baladas coletadas e preservadas em seu Border Mins­trelsy. Ele compreendeu o que os irmãos Grimm procuravam, e recomendou a edição in­­gle­sa dos contos a todos os lares.

Logo que completaram a Teoria da Mitologia Germânica – o que levou treze anos –, os irmãos embarcaram na gigantesca tarefa de produzirem um Dicionário da Língua Alemã, mas ambos faleceram antes de terminá-lo. Próximo ao fim de sua vida, Jacob por vezes levantava as mãos, os dedos estendidos, dizendo tristemente: “Tenho um livro pronto a sair da ponta de cada um dos meus dez dedos – mas não sou livre”.

Quando tinha uns trinta anos, Jacob exercera um posto na Universidade de Göttingen e fora um dos sete professores que assinaram um protesto contra a interferência do rei de Hanover (aquela personalidade duvidosa, Ernesto, o Duque de Cumberland) em suas liberdades acadêmicas. Foi despedido da Universidade e banido do reino. Parecia um desastre, pois como poderia trabalhar sem o acesso a uma biblioteca erudita? Retornou a Kassel e labutou como pôde mas, felizmente, após três anos, o Rei da Prússia lhe ofereceu um cargo na Universidade de Berlim, onde daria continuidade ao seu trabalho.

Um outro filólogo famoso, Vigfusson, legou-nos uma vívida descrição de Jacob Grimm aos setenta e quatro anos, quando vivia em um apartamento na Linkstrasse, em Berlim. Não era muito alto, mas tinha um porte ereto, sua cabeça grande inclinava-se levemente, como se em pensamento. Tinha o rosto barbeado e carregava um semblante sério que pouco se alterava. Seus cabelos eram volumosos, lisos e prateados. Ler e escrever ha­viam cansado seus olhos, mas não usava óculos; ainda assim era capaz de encontrar o exato livro procurado e até mesmo de abri-lo na exata linha desejada. Era ordeiro em suas vestimentas e não fumava. A sala onde trabalhava, limpa e arejada; as paredes, cobertas de livros e, como única mobília, uma mesa maciça ao centro, e um banco ou sofá sem recosto ou apoio para a cabeça. Enormes volumes in-fólio se espalhavam por toda parte, alguns recostados nos pés da mesa. Jacob não demonstrava sinal de orgulho ou de vaidade, não desejava falar de si mesmo, apenas do trabalho de outros homens. Conta-se que Hans Christian Andersen (uma personalidade bastante diversa, sempre guia­do pelo coração e pela imaginação, por demais sensível, por demais terno e desejoso de felicidade) certa vez partiu alegremente de Copenhague para visitar estes (na sua concepção) seus irmãos artistas. Encontrou o apartamento e indagou por eles. Perguntaram-lhe qual irmão Grimm gostaria de ver. – “O... o que escreve os contos de fadas” – gaguejou, começando a desejar nunca ter vindo. Foi levado a Wilhelm. Inclinaram-se, cumprimentando-se. O “comprido” Andersen olhou de cima de sua desajeitada altura para o grave e circunspecto Grimm. Wilhelm repetiu o nome de Andersen sacudindo a cabeça negativamente. Nunca ouvira falar em Hans Christian Andersen. Andersen tentou explicar. Escrevia contos de fadas. Suas obras ha­viam sido incluídas junto com a dos irmãos em um volume traduzido... Wilhelm ainda balançava a cabeça. Não, de modo algum; nada sabia de Andersen e de seus contos. Talvez Jacob pudesse ajudar, não? Mas Andersen, magoado, com lágrimas nos olhos, já se retirava.

L&PM: Vida & Obra - Os Irmãos Grimm

domingo, 16 de dezembro de 2012

Silêncio ~

“ Se você não consegue entender o meu silêncio, de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos. Se você não se atrasar demais, posso te esperar, por toda a minha vida. "
(Oscar Wilde)

" Sou o mestre na arte de falar em silêncio. Toda minha vida falei calando-me, e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra. "
(Fíodor Dostoiévski)

" Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso. "
( Clarice Lispector)

" A música expressa o que não pode ser dito em palavras, mas não pode permanecer em silêncio. "
(Victor Hugo)

" Para todos os males, há dois remédios: o tempo e o silêncio. "
(Alexandre Dumas)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Teus Olhos

Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima, 
silêncio que fala,
Tempestades sem vento, mar sem ondas, 
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cestas de frutos de fogo,
mentira que aimenta,
espelhos deste mundo, portas do além, 
pulsação tranquila do mar do meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária. 

(Octavio Paz)