sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Orfeo

Foste tudo para mim, meu amor,
Foste o anelo de minh'alma -
Uma ilha verde no mar, meu amor,
Uma fonte e um santuário,
Tudo ele agrinaldado de belos frutos e flores,
E todas as flores eram minhas.

Ah sonho por demais auspicioso para durar!
Ah, estrelada Esperança! que surgiu
Apenas para se toldar!
Uma voz do Futuro roga,
Adiante! adiante! - mas no Passado
(Negro abismo!) paira meu espírito,
Mudo, inerte, consternado!

Pois hélas! hélas! para mim,
A luz da vida se apagou.
Não mais - não mais - não mais'
(Eis o que diz o oceano solene
Para as areias da praia)
Mederará a árvore destruída pelo raio,
Nem planará a combalida águia!

Agora todos os meus dias são transes,
E todos os meus sonhos à noite
Residem onde pousam teus olhos cinzentos,
E onde cintilam teus passos -
Em que etéreas danças,
Por que riachos italianos.

Ai daquele momento maldito
Em que te carregaram sobre a onda,
Do Amor para uma velhice de sangue azul e pecado,
E para um travesseiro impuro -
De mim, e de nossos eternos climas,
Para onde chora o prateado salgueiro.

(Poliziano)

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