domingo, 13 de janeiro de 2013

Ofélia de Shakespeare

Não há outra personagem de Shakespeare que tenha sido mais retratada em pinturas do que Ofélia. Personagem secundária da peça teatral Hamlet. Escrita em 1601 e considerada sua obra mais densa, Hamlet, obra e personagem, influenciaram profundamente a cultura ocidental. 

Paradoxalmente, o interesse de diversos pintores ao longo dos tempos recaiu exatamente sobre Ofélia, mais precisamente sobre sua loucura e sua morte nas águas. A predileção pela personagem, em detrimento de outras, é considerável: não há outra personagem de Shakespeare que tenha sido mais retratada na pintura. Desde 1740, quando se teve notícia das primeiras ilustrações da peça, ela foi retomada pelas artes plásticas como o arquétipo da donzela indefesa. Derivada do tipo feminino da noiva ou amada morta em plena juventude – tipo caro aos poetas românticos – representava um modelo espiritualizado e espectral de mulher. Saber Projetos Culturais

Em Hamlet, Shakespeare revela seu profundo conhecimento do ser humano. A descrição da morte de Ofélia é uma das passagens mais poéticas da literatura mundial. A personagem, desesperada não percebe sua própria desgraça, de modo que canta até seu último fôlego, refletindo assim o que diz Hamlet sobre o suicídio: “Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se.” A morte cantante de Ofélia traduz o alívio de uma alma conturbada, pode-se perceber durante a leitura que ela é a mistura do catolicismo quando é descrita como donzela, mas também do pagão quando a comparam com uma ninfa, tornando a personagem um duo, duas Ofélias.

Um filme que mostra uma cena semelhante à morte de Ofélia é Melancolia (2011) de LarsVon Trier. 

Deixo então a passagem da Rainha Gertrudes, comunicando ao irmão de Ofélia, Laerte, a morte da donzela.


Ofélia (1863-64) de Arthur Hughes
" Por sobre uma nascente há um salgueiro inclinado
Que espalha as folhas gris no líquido cristal.
Ali fez fantásticas guirlandas, de urtigas,
Margaridas, ranúnculos e orquídeas púrpuras,
A que os ímpios zagais dão um nome vulgar
E as castas virgens chamam “dedos-de-defunto”.
(...) E então tombaram ela e seus troféus floridos
No plangente riacho. Suas roupas se abriram,
E, como uma sereia, boiou por instantes.
E aí entoou refrões de antigas cantorias
Como alguém insensível à própria agonia
Ou como um ente nato e de todo integrado
À água que escorria. Porém, não demorou
E suas vestes, pesando da água que bebiam,
Arrastaram a infeliz de suas doces cantigas
Para os lodos da morte. "
(4.7.165-170/173-182)


Ofelia (1852). John Everett Millais. Galeria Tates.



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